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25 de julho de 2012

Casa do julgamento



Algum tempo atrás, uma igreja da cidade onde vivo montou uma peça teatral interativa chamada “A Casa do Julgamento”. Não fui assistir, mas sei que foi um grande sucesso entre o público evangélico e acredito que tenha tido grande valor evangelístico. Hoje, três ou quatro anos depois daquele evento, o nome “A Casa do Julgamento” ainda ecoa em minha mente – mas por outros motivos.

Nestes (poucos) anos de igreja que tenho, pude ver muitas pessoas abandonando igrejas com o argumento de que não aguentavam ser julgadas pelos outros. Presenciei homossexuais tentando começar uma caminhada de fé sendo forçados a pegar outras estradas por causa dos olhares julgadores de muitos. Vi dependentes químicos buscando auxílio espiritual para escapar de seus vícios sendo ridicularizados pelos bastiões da moral e dos bons costumes. Testemunhei, com tristeza, mestres da lei transformando a casa de Deus em um tribunal, em casa de julgamento, um lugar onde os imperfeitos são julgados e condenados pelos puros e santos.

Sempre que presencio uma situação deste tipo, lembro-me das palavras de meu primo Arthur, conhecedor da Bíblia como poucos. “É interessante notar que muitas pessoas, à medida que têm mais tempo de igreja, se tornam mais intolerantes às diferenças”. Vejo homens e mulheres que deveriam ser ícones dos valores cristãos sendo reproduções modernas do irmão mais velho do filho pródigo (poupe-me de explicar esse exemplo melhor e leia a Bíblia). Gente que deveria acolher, espanta. Gente que deveria ajudar, julga.

Gente santa que transforma igreja em tribunal
Lembro-me das palavras do apóstolo Tiago: “quem você pensa que é para julgar os outros?”. Jesus, o Cristo, andava com os pecadores. Almoçava e jantava com os esquecidos, aqueles que ninguém chama para um café ou para assistir ao jogo de domingo. Apesar de não compactuar com o erro de ninguém e mudar a vida daqueles que assim desejavam, Jesus não apontava o dedo para eles em atitude acusatória. Pelo contrário. Ao presenciar um julgamento público de uma mulher adúltera, ele apenas diz: “quem não tem telhado de vidro que atire a primeira pedra”. Os juízes vão embora um após o outro, e Cristo fica a sós com a mulher. Conclui a conversa dizendo: “nem eu te julgo, só não pise na bola novamente”.

Parece que a igreja de Jesus esqueceu quem é o juiz, o justo juiz. Esqueceu quem tem o poder para perdoar e salvar e tomou para si a responsabilidade de separar santos e pecadores, puros e imundos. E neste processo, muitos que poderiam ter caminhadas longas ficam no meio do caminho, jogados no acostamento sem ninguém que lhes dê atenção, condenados a viver sob os olhares acusadores daqueles que julgam na esperança de ocultar as próprias falhas. 

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