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21 de junho de 2012

A morte da morte

Não sei lidar com a morte. Admiro quem consegue lidar bem com a própria finitude, mas não me dou bem com a ideia de que eventualmente vou deixar esta vida. Sei que é inútil gastar tempo preocupado com o inevitável, mas não consigo evitar certo temor ao pensar que meus dias nesta terra são poucos. Por mais anos que eu venha a viver, ainda assim, para mim, serão poucos dias.

Tenho a sensação de que a morte é algo injusto. Não nasci para morrer. Não tenho vocação para morrer. No entanto, não posso evitar morrer. Muitos tentam, fazem de tudo para prolongar suas vidas, mas como diz a bela canção “Dust in the Wind”, nem todo o dinheiro do mundo pode comprar um segundo a mais de vida. O que fazer, então, para viver livre da angústia do fim?

Não sei. Sinceramente, não sei. O que creio é que a morte não tem a palavra final, pois vivo na esperança da ressurreição. Assim, subverto a ideia original do texto e procuro o outro lado da moeda: a vida. O medo da morte não nos impede de morrer, nos impede de viver. Por isso, penso que, para viver livre do medo da morte, preciso primeiro viver. Viver de verdade, viver intensamente. Como disse o pastor Ary Velloso – que já passou pela morte –, a velha e maldita morte é vencida não apenas pela ressurreição, mas por uma biografia digna. Fazer da vida algo que vale a pena é o primeiro passo para ser livre do medo do fim.

Não se deve olhar fixamente para a morte, mas para a vida
Salomão pinta um panorama poético sobre a morte. Diz que “a vida vai se acabar como uma lamparina de ouro cai e quebra, quando a sua corrente de prata se arrebenta, ou como um pote de barro se despedaça quando a corda do poço se parte”. O sábio diz que a morte é nosso descanso final, momento em que voltaremos ao pó da terra e nosso espírito voltará para Deus. Aqui, torna-se clara a ideia de que é preciso ter fé para ver a morte como a entrada para a eternidade. Para o bem ou para o mal, a morte é a fronteira final entre nós e a eternidade.

Abro um rápido parêntese para pensar na morte do outro. Até agora, falei do que penso sobre minha morte. Pensar na morte do outro me é igualmente difícil, porque entendo que não nasci para ver ninguém partir. No entanto, minha fé me impulsiona a crer que o outro não morre, mas parte para a vida verdadeira. Quando pensamos em morte, é comum imaginarmos que o mundo real é este em que vivemos, onde podemos tocar nas coisas, e que o “além” será quase etéreo, esfumaçado. Tenho tentado ver a vida e a morte com outros olhos, pensando que a vida que começa após a morte é que é a vida verdadeira. Lá, as coisas serão reais, e me lembrarei desta vida como algo etéreo e esfumaçado. Aqui sou quase um reflexo do que serei depois. Fecha parêntese.

Penso na vida como uma jornada, e tenho procurado pensar na morte como o portão de desembarque desta viagem. A morte não é o fim, é quase o início. Ao fechar os olhos pela última vez, dou o primeiro passo para voltar para casa. O trabalhador passa o dia no trabalho, pensando na hora que voltará para casa. O soldado passa dias (ou meses) na guerra, esperando a hora de voltar para casa. Vivo esses breves anos da melhor maneira que posso, esperando a hora de embarcar e finalmente voltar para casa.

Um comentário:

  1. Fato, quando imaginamos uma vida seguinte à esta, imaginamos como se fosse a imagem de um sonho: sem riqueza de detalhes, nada concreto, difícil de discernir; quando na verdade lá será muito mais concreto, detalhista e claro do que aqui. Nunca tinha pensado nisso. Excelente reflexão, Edu.

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